Quando a crise financeira afeta a saúde física e emocional

Se você que está lendo este blog, já passou, ou está passando por alguma crise financeira, você percebeu alguma mudança na sua saúde física ou mesmo nas suas questões emocionais, com uma mudança no comportamento?

Será que as questões financeiras afetam a nossa saúde física e emocional, ou o contrário, quando devido a um problema de saúde ou emocional causamos um desequilíbrio em nossas finanças?

Há um amplo material de pesquisa sobre esse assunto, principalmente nos EUA e trazemos aqui alguns recortes de uma pesquisa realizada nos EUA, sobre o impacto da crise financeira na saúde física e emocional. Este estudo foi realizado pelo National Institute of Mental Health e University of South Hampton, e publicado na Clinical Psychology Review, com duas amostras diferentes de público, uma passando por crise financeira e outra não. Este é um resumo de uma coletânea de 65 pesquisas realizadas sobre o mesmo tema e consolidadas nesta publicação.

1) Qual o impacto da crise financeira em nossa vida pessoal e profissional?

Fonte: Clinical Psychology Review

Conforme a figura acima, o círculo em branco são das respostas dos entrevistados que não passam por crise financeira. O círculo em vermelho são das pessoas que estão passando pela crise acentuada nas finanças. Os cinco pontos mais destacados foram: 51% dos entrevistados comentaram que sentem dores nas costas e tensões musculares frequentes; 44% passam têm cefaleias e dores de cabeça; 39% com problemas de insônia e do sono; 33% sofrem problemas de pressão alta e 29% por crises de ansiedade.

Isso potencializa o que podemos chamar de “bomba-relógio”, pois de um lado, pessoas que passam por crises financeiras começam a sofrer problemas de saúde, e também o estudo comenta que, pessoas que estão passando por um grave problema de saúde ou problemas emocionais, têm possibilidade de 3x mais passar a ter um descontrole financeiro, pois o tema finanças perde a importância, diante de um problema grave que a pessoa está passando.

O estudo comenta que 33% dos americanos estão inadimplentes (três parcelas não pagas ou mais de 90 dias de atraso). No Brasil, neste mês, a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) publicou uma pesquisa em que 71,4% das famílias estão endividadas.

No tema de hoje ainda nem chegamos a abordar sobre outros estudos em que a crise financeira aguda pode desencadear situações como suicídio, distúrbios alimentares, dependência química, divórcios, violência doméstica, acidentes de trânsito, exclusão social entre outros.

Em todo o meu tempo de trabalho no Banco, sem uma pesquisa estabelecida, mas apenas por percepções e situações in loco, percebi várias situações de divórcios seja de casais ou de sociedades empresariais, devido o problema financeiro da família ou da empresa. Um caso grave, que me marcou na época, aconteceu com a história de uma pessoa da minha equipe, pois, o pai dela se suicidou dentro da própria casa, pelo fato da grave crise financeira que sua família estava passando.

Em um estudo da Financial Planning Canada Standards Council também já publicou estudos em que há diferenças no comportamento de mulheres e homens quando o assunto é a crise financeira. Perceba no quadro abaixo, que as mulheres sentem muito mais o impacto da crise financeira do que os homens, sendo 51% das mulheres entrevistas com problemas de dificuldade para dormir, enquanto nos homens o índice cai para 40%. A crise de ansiedade impacta em 30% as mulheres, enquanto este mesmo sintoma cai para 17% no público masculino.

2) Rompa o tabu ao falar de Finanças

No Brasil, no ano passado, o Valor Invest  em um amplo estudo com o Itaú e Datafolha, divulgou uma matéria onde 97% dos brasileiros entrevistados alegaram ter dificuldades para cuidar das suas próprias finanças e 49% evitam até pensar nesse assunto, para não sofrer.

Por que isso ocorre? O dinheiro é um tabu em nossa sociedade! Famílias não falam de finanças, pessoas com relacionamentos afetivos não conversam sobre finanças, sociedades empresariais não falam de finanças, casais não falam de finanças e por aí vai.

É muito interessante quando faço algumas pesquisas sobre finanças em salas de aula. Se a pergunta for aberta e pública, dificilmente alguém levantará a mão para comentar sobre sua situação financeira. Se a pergunta for privada e anônima, com aquele mesmo público, o resultado é bem mais qualitativo pessoas passando por dificuldades financeiras. Por que passamos por isso? Há o sentimento de vergonha, de exclusão social e de rejeição que o assunto dinheiro causa em nossa sociedade.

O que é essa exclusão social? É como se você estivesse próximo a uma festa, escutasse o som da festa, percebesse os convidados chegando, pessoas felizes, mas você não está nessa festa. Ou seja, o seu momento é diferente dos demais. Se você compreender que o seu momento é diferente, isso já é uma vitória, pois, muitas vezes, o consumismo e o endividamento é um vício na vida de uma pessoa, que não percebe que está sendo afetada por essa doença.

Se aplicarmos literalmente a pesquisa da CNC, a cada dez pessoas que você vê numa rua, sete estão passando por problemas financeiros. Mas como, ao mesmo tempo, percebemos tantas pessoas viajando, comprando coisas, vendas de carro disparando, pessoas consumindo nos shoppings, bares e restaurantes lotados, fotos maravilhosas nas redes sociais, etc.?

Dica: Não se deixe levar por imagens. Muitas pessoas estão disfarçando ou fugindo da sua real situação. Seja claro consigo mesmo. Se não é o seu momento de “festa”, reaja, mude e transforme a sua situação financeira. Ninguém começará isso melhor que Você. Gosto muito da frase do livro do Louis Frankenberg, autor de um dos primeiros livros de Finanças Pessoais em nosso país. “Seu Futuro Financeiro: Você É o maior responsável!”

3) Procure ajuda de um Profissional nas áreas citadas

Gosto muito da frase do grande Warren Buffett em que ele diz que você não precisa ser um expert em tudo, mas sim, conhecer o perímetro das coisas que você sabe e não sabe, e manter-se dentro dele. O que quero dizer com isso? Dificilmente você conseguirá resolver uma crise financeira se você não cuidar das demais áreas.

A proposta da Fluir é deixar as suas finanças em dia e, com isso, podemos contribuir para a sua Liberdade Financeira. Porém, da mesma forma, procure ajuda dos Profissionais da Saúde para cuidar das suas questões físicas, alimentares e emocionais.

Percebemos em algumas das consultorias em que há pessoas que estão passando por uma crise financeira, chegam a entrar em contato para marcar a sua primeira consultoria diagnóstica (a qual é gratuita), mas logo desistem e desmarcam. Há também um outro grupo de pessoas que participam da primeira, mas não tem forças para encarar a jornada de mudança e logo desistem. Não há fórmula mágica e instantânea e, até por isso, muitas pessoas caem em golpes financeiros em nosso país. Mudança de atitude e comportamento levam um tempo e, para isso, a pessoa precisa querer.

Fonte: Psychological factors associated with financial hardship and mental health: A systematic review – ScienceDirect ANBIMA; Banco Central; Bullion-Rates; Capitalizo; CNN Business; CORECON; Dica de Hoje; Endeavor; EQI; Forbes;  Infomoney; Itaú Corretora, Nord Research; Sebrae; Suno Research; Tesouro Direto, XP Inc.

Renato Torquato

Economista, consultor e professor da FranklinCovey.